Idosos e gestantes sofrem com a falta de informação sobre condições de vacinação contra a febre amarela
Muito se sabe a respeito sobre a febre amarela, mas o que poucos sabem é que nem todos podem fazer uso da vacinação como forma de proteção da doença. Segundo a coordenadora responsável da Policlínica de Ouro Preto, Adriana Maria Custódio de Melo, a administração de doses para gestantes, idosos, imunodeprimidos e crianças abaixo dos nove meses de idade deve ser feita com controle, a partir de avaliação médica.
Assim é possível levantar o risco ou benefício da vacinação. Por exemplo, se uma gestante necessita viajar para uma zona muito afetada pela doença, ela precisaria avaliar com seu ginecologista o quanto a prevenção se tornaria risco. Adriana também afirmou que até o final de fevereiro deste ano nenhuma gestante foi vacinada no município de Ouro Preto.
Ingrid Lorena Faustino (25), moradora de Mariana e mãe de Eduardo de 2 meses de idade, relata que em seu período de gestação ficou aterrorizada com a possibilidade de adquirir a doença estando grávida. Ela diz que se informou da impossibilidade de tomar a vacina, mas não tinha nenhum suporte ou informação sobre como proteger a si e a seu filho.
Unidade de Pronto Atendimento da Policlínica de Ouro Preto (Foto: Larissa Maiane)

Com o crescente número de vítimas da doença a procura pela vacina cresceu na cidade. De acordo com a coordenadoria da policlínica de Ouro Preto, a demanda está sendo cumprida integralmente.
Em Mariana, a coordenadora Poliane de Castro Marques afirmou que estão disponíveis diariamente cerca de 300 vacinas, distribuídas também para os distritos. Ela ainda explicou o porquê de idosos estarem no fator de risco: com a idade avançada, o corpo se deteriora e pode ser prejudicado pela vacinação. Quanto às crianças recém-nascidas, ela disse que o problema da prevenção viria pela ainda baixa imunidade do organismo.
Idosos sofrem por estarem sujeitos a tal risco e não terem como se protegerem pela forma convencional. Há quem se informe, como Catarina Riveiro (70) que procurou uma consulta médica. Por recomendação do especialista optou por não se vacinar. Dona Catarina contou que está sem a vacinação há anos e só mantém sua casa em ordem, evitando deixar água parada em garrafas e não acumulando lixo em seu quintal para evitar a reprodução do mosquito. Ainda assim, há desinformação quanto ao assunto: Dona Eliza, com mais de 60 anos, disse não tomar a vacina pois acredita que não precisa mais dela devido à sua idade. Ela optou por usar repelente diariamente para se prevenir.
Dona Eliza e Dona Maria do Carmo na UPA
(Unidade de Pronto Atendimento) (Foto: Larissa Maiane)

Assim como Dona Eliza, Maria do Carmo afirma não necessitar mais da vacina por causa da idade avançada. Ela também disse que não lembra se alguma vez recebeu a dose contra a febre amarela durante sua vida. Com 65 anos de idade, Maria do Carmo se informou na internet que não precisa da vacina e por isso disse estar tranquila. O grande problema em situações como a de Dona Maria e Dona Eliza é a falta de informação correta sobre os riscos da não vacinação e a falta de procura por ajuda profissional para avaliar o risco ou benefício desse tipo de prevenção.
A falta de informação aos idosos que vão aos postos, muitas vezes corriqueira, causa estresse, como disse a coordenadora Poliane: “Tem idoso que volta aborrecido pra casa, porque é informado que não pode se vacinar”. Contudo, a coordenadora não esclareceu se eles são informados da necessidade procurar ajuda médica para avaliar cada caso.
Sobre o atual surto
Até 21 de fevereiro de 2017, O Ministério da Saúde confirmou 84 mortes pelo surto da febre amarela em Minas Gerais. Segundo boletim epidemiológico divulgado no dia 3 de março pela Secretaria do Estado de Saúde (SES-MG), o estado registra 1.063 casos suspeitos, com a confirmação de 260. Os técnicos informam que são 15 novos casos em relação à semana anterior, na qual 87,8% das situações envolveram vítimas do sexo masculino com idade média de 45 anos. A doença passou a ser diagnosticada também em pessoas residentes de centros urbanos, sendo que os casos ocorriam em maior parte nas zonas rurais.
Com o aumento do risco de contágio, o governo de Minas iniciou campanhas de vacinação localizadas nas regiões de foco da doença. Existem três mosquitos que transmitem a febre amarela: o Haemagogus, o Sabethes e o Aedes aegypti. Os dois primeiros vivem em matas e áreas rurais, tornando assim essas áreas zonas endêmicas da doença e com um maior risco para seus habitantes. Outro fator importante é que esses lugares não têm as devidas prevenções contra o mosquito transmissor como telas nas janelas e controle de água parada. O hábito de usar roupas mais curtas e de materiais mais finos, devido às altas temperaturas, também favorece a picada dos mosquitos transmissores.
Na Região
As coordenadorias de vacinação de Ouro Preto e Mariana afirmam que não há surto de febre amarela na região atualmente, mas que se preparam para a possível necessidade de iniciar uma campanha local de vacinação. Dados oficiais das policlínicas de ambos os municípios confirmam que foram vacinadas mais de 15 mil pessoas só em 2017 e aproximadamente duas mil apenas em fevereiro. No caso de necessidade, a segunda dose (que normalmente é dada dez anos depois da primeira) deve ser adiantada.