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Lampejos

Pelos professores Rafael Drumond e Julia Lery

 

Prezado leitor.

 

Nas páginas seguintes [sim, um blog, como um livro, também é feito por páginas], estão disponíveis reportagens produzidas por jornalistas ainda no primeiro ano do processo de formação. Jovens que escolheram o jornalismo como ofício, e que, valendo-se do laboratório experimental desenvolvido em uma disciplina introdutória, depararam-se com os desafios intrínsecos à profissão: elaborar pautas, pesquisar temas, apurar fatos, redigir textos e fotografar recortes de mundo.

 

Se fragmentar e selecionar realidades a serem noticiadas por uma perspectiva humana e cidadã parece desafiador em qualquer lugar do mundo, a cidade de Mariana faz da prática jornalística um trabalho ainda mais árduo. Estamos no centro do maior desastre socioambiental da história do país - o rompimento da Barragem de Fundão, pertencente à mineradora Samarco - e, dele, pouco sabemos. Dele, poucos sabem.

 

Ao mesmo tempo em que se fazem presentes no noticiário nacional pelo rompimento da barragem e nos mapas turísticos pelo patrimônio histórico e arquitetônico, Mariana e Ouro Preto têm demandas que não aparecem no espaço iluminado pelos holofotes da mídia tradicional. Essas cidades, ditas históricas [e qual cidade não o é?], ainda são espaços-sínteses da mentalidade colonial que atravessa nossos modos de fazer política e de ser sociedade.

 

Viver a cidade não garante conhecimento dessas complexidades. É por isso que este trabalho de reportagem possui um caráter não só informativo - no sentido de fornecer elementos de comprovada factualidade -, mas também formativo, tendo em vista a possibilidade de uma leitura crítica e atenta a esse entorno fragmentado e, muitas vezes, invisível. O que significa reportar o mundo de hoje?  

 

Nesse sentido, acreditamos que nossos repórteres-estudantes foram exitosos ao sair do (des)conforto das cadeiras universitárias para se aventurarem nos espaços incertos, dinâmicos e plurais que tecem nossas cidades. Enfrentaram a dureza do cotidiano; a fonte que não queria exercer sua oficialidade e prestar o esclarecimento que lhe cabia; as dificuldades de falar sobre temas e sujeitos que nossas sociedades querem esquecer. Isso sem perder de vista a empatia, a projeção de si no outro, a tentativa de estabelecer relações que vão além do texto, mas que se expressam em olhares, em ditos e escutas, em apoio, solidariedade e confiança.

 

É desse trabalho - corajoso e humano, forte e delicado - que acreditamos surgir lampejos de vagalumes. Num mundo cada vez mais midiatizado, forjado por um jornalismo espetaculoso e socialmente descomprometido, lançamos uma luz que busca resistir às distorções tornadas normas, para, assim, recuperar o sentido da profissão nas diferenças que ainda podemos fazer. Esses vagalumes acendem as chamas de uma lamparina que, em alguns semestres, há de se converter na luz mais forte do Lampião*, e que, em alguns anos, seguirá iluminando as trajetórias de profissionais preparados para os desafios técnicos e éticos do jornalismo.

 

Aos nossos alunos, desejamos a força das chamas que acendem a esperança de um mundo melhor. Desejamos, ainda, a sutileza dos vagalumes que desafiam a escuridão e, todas as noites, abrem pequenos universos de luz.

  

 

* Jornal Laboratório do Curso de Jornalismo da Ufop.  

2016 - 2017

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