Iniciativas nobres trazem cidadania, educação e qualidade de vida para a população
Em um dia normal de serviço, Rosimeire, uma funcionária pública marianense encontrou três mil reais em dinheiro em um saco de lixo e não pensou duas vezes: decidiu procurar seu proprietário para poder devolvê-lo. A Confraria Capim Canela, grupo marianense que tem o intuito de ajudar aos que mais necessitam, reconheceu o ato da gari, dando-a como reconhecimento uma placa pelo ato de honestidade e bom caráter realizado por ela.
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Não é comum ver pessoas tomando a mesma atitude em uma cidade em que os índices de criminalidade aumentaram. Pode ser que você more há muitos anos na primeira cidade de Minas e não tenha visto falar nessa notícia, nem mesmo conheça outros cidadãos que promovam gestos bem intencionados como o da funcionária pública. É que muitas vezes os benfeitores estão ocultos em uma sociedade que dá audiência para tantos acontecimentos ruins.
Essas pessoas, no entanto, existem, e atuam a todo momento engajados em causas sociais. Seja como integrante de um projeto para doação de sangue ou como provedor de oficinas para crianças de comunidades carentes. Todos eles têm o mesmo intuito: contribuir com a sociedade. Conheça alguns projetos sociais da região dos Inconfidentes.
Confraria Capim Canela
O servidor público marianense Humberto Marques Carneiro Alvin, junto com seu irmão Wener e amigos, criaram em 2015 a Confraria Capim Canela. O grupo tem por objetivo ajudar os necessitados de forma emergencial. Assim, as doações abrangem alimentos, produtos hospitalares, materiais escolares, ajuda financeira para o pagamento de cirurgia, remédios, roupas e outros. Além disso, o projeto reconhece boas ações realizadas por marianenses, dando credibilidade à boa ação praticada, como foi o caso de Rosimeire, que recebeu uma placa em reconhecimento por ter devolvido o dinheiro que encontrou no lixo. O grupo atende as cidades de Mariana, Ouro Preto e distritos próximos.
Confrade realizando doações de cestas básicas
(Foto: Arquivo Pessoal)

A Confraria não recebe nenhum tipo de ajuda governamental e conta com doações e com auxílio financeiro dos próprios membros, os confrades, que são atualmente 102. Eles pagam uma mensalidade que é diretamente revertida para a compra de produtos.
Além das doações, os membros são profissionais das mais variadas áreas e prestam auxílio jurídico e odontológico e se dividem em grupos transporte e visita. Assim, a ajuda acontece o mais rápido possível. "O nosso objetivo é atender quem precisa emergencialmente, porque fome e atendimentos médicos não esperam. Por isso fazemos trabalhos de doações e auxílios todos os dias", afirma Wener Alvin, vice-presidente da Confraria. Wener relatou que os pedidos de doações aumentaram desde a tragédia de Bento Rodrigues e do crescimento do desemprego na região. A Confraria possui outros projetos, como a plantação de hortas na APAE de Mariana e empréstimos de cadeiras de rodas e materiais hospitalares.
Todo tipo de doação é bem vinda e para saber mais sobre como ajudar o projeto, entre em contato com a página da instituição no Facebook (Link). As doações podem ser recebidas na sua sede que se localiza no centro de Mariana, na rua Alfredo de Moraes 237, ou pelo contato: (31) 98815-2169.
Vice-presidente Wener, à esquerda e Humberto, o fundador, à direita. (Foto: Antônio Vinícius)

Doe Sangue Mariana
Quando Adriano Silva e alguns amigos foram doar sangue para uma prima, um encontro inesperado e uma rápida conversa fizeram surgir o desejo de criar um projeto de doação de sangue na cidade de Mariana. Nesse dia, em agosto de 2015, Adriano conheceu um senhor que transportava gratuitamente doadores de sangue do município de Nova Lima (MG) até o Hemominas, na cidade de Belo Horizonte, e se interessou pela história. “Eu sempre tive essa vontade, esse sonho, mas não acreditava que daria certo. Foi nesse dia que surgiu a ideia”, afirma Adriano, que, ao voltar para casa, reuniu um grupo de amigos e fez a proposta. A resposta foi a fundação do “Doe Sangue Mariana”.
Adriano e outros envolvidos encontraram dificuldades no início do projeto, mas visaram meios para driblá-las. Para resolver a questão do transporte, buscaram amigos proprietários de veículos que pudessem ajudar, emprestando o carro ou cobrando mais barato pela viagem. Desde então, muitas pessoas demonstraram interesse em participar. Para que todos os doadores cooperassem continuamente, Adriano montou turmas e criou os revezamentos. A primeira turma data de julho de 2016 e hoje mais de 150 pessoas participam do grupo colaborando ativamente com doações de sangue para o Hospital Júlia Kubitschek.
Da esquerda para a direita: Deyse, Carminha, Clemilson, Adriano (Baby), Maria Marta, Luciene e Elaine Cristina. (Foto: Irislaine Ventura)

Carminha, Luciene, Elaine, Maria Marta, Deyse e Clemilson são apenas alguns dos envolvidos do projeto. Alguns são doadores e outros como colaboradores nas demais questões, por não atenderem aos requisitos básicos para doar sangue, como é o caso de Deyse. A jovem de 33 anos se sentiu mal e teve queda de pressão na tentativa de ser doadora. Ainda assim ela se sentiu na obrigação de ajudar o grupo de outras maneiras quando conviveu com pessoas próximas que precisavam receber doação de sangue.
Todos os voluntários dizem que se sentem gratos por contribuir de alguma forma para salvar vidas e reconhecem a importância da manutenção do banco de sangue. “Eu tenho medo de agulha, mas para doar perco o medo, pois é uma causa nobre”, reconhece Maria Marta, doadora. Marília Fontenelle e Silva, médica formada pela Universidade Federal de ouro Preto (Ufop), reforça a importância da doação de sangue: “Tem uma demanda gigantesca de sangue, tudo que puder ser feito para aumentar a oferta e ajudar pessoas necessitadas é muito válido”.
Os integrantes do Doe Sangue Mariana precisam se locomover até Belo Horizonte para realizarem as doações. Isso porque Mariana não tem estrutura para um banco de sangue. O local de coleta que havia na cidade dependia do envio do sangue para a capital para que fosse feita a análise antes de sua utilização, e por isso foi fechado.
O Doe sangue Mariana ainda busca visibilidade dentro da comunidade, novos doadores e contribuições. Interessados devem curtir a página do Facebook “Doe sangue Mariana” ou falar com Adriano Silva pelo contato: (31) 99692-5002.
Projeto Social Alferes
Morador de Mariana há 29 anos, há 7 Wanderley Lúcio de Oliveira dedica o seu tempo para dar oportunidades de socialização para crianças do bairro Prainha. O “Projeto Social Alferes” foi criado com o objetivo de diminuir a incidência de jovens no crime, o que é recorrente na comunidade marianense. O projeto oferece oficinas que envolvem música, leitura e artesanato e atende por volta de 40 a 50 crianças e adolescentes de 06 a 16 anos, tendo capacidade de trabalhar com até 80 jovens todo ano.
“O mais difícil não é manter a criança no projeto e sim convencê-la a participar”, explica Wanderley. Ele afirma que no ano de 2016 foram atendidas um total de 37 crianças, que frequentam o projeto diariamente, em turnos alternados com o horário escolar.
Artesanato criado pelas crianças do Projeto Social Alferes. (Foto: Ivan Vilela)

Para Adriane Pereira dos Santos, o projeto só traz benefícios. “Meus três filhos começaram a participar do projeto desde cedo, sendo que o meu filho mais velho já está há 4 anos”, explica. Segundo ela, as crianças tiveram a oportunidade de aprender muita coisa que a escola não ensina, além de não ficarem na rua enquanto a mãe não está em casa.
Segundo o próprio criador e diretor geral da iniciativa, as maiores dificuldades são financeiras, pois o projeto sobrevive por meio de doações e também de verbas concedidas por empresas públicas e privadas através de editais. A Vale, mineradora que também possui filial na cidade de Mariana, é uma das doadoras, entretanto, reduziu a verba pela metade mediante a crise financeira enfrentada pela cidade.
O Projeto Social Alferes não possui renda fixa e não é possível realizar o pagamento dos funcionários, que atualmente são voluntários. “Conseguimos ajuda com o posto de saúde do bairro, para dar assistência médica aos jovens, e também com cidadãos marianenses que se dispõem a vir para ministrar algumas oficinas”, relata Wanderley. “Como não possuo habilidade para realizar as oficinas, recorro a outras pessoas que podem me ajudar”, completa.
O Programa de Educação Tutorial do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (Pet Icsa) da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) disponibiliza alunos para realizarem atividades com as crianças rotineiramente. Em nota, o Pet explica que a parceria com o Projeto Social Alferes teve início no final de 2015, na qual eram realizadas brincadeiras e atividades de festividades, como os aniversários das crianças e datas comemorativas. A partir de abril de 2016, começaram a oferecer aulas de reforço das disciplinas de Matemática, Português e Educação Física. Ainda segundo o Programa, o projeto ajudou a aproximar a formação de cada um com a realidade de cada área e, ainda, aproximar mais a universidade da comunidade local.
O ano de 2017 começa com mais 10 matrículas novas além dos participantes do ano passado. Com ajuda de uma verba concedida pela Prefeitura, o projeto irá oferecer aos alunos um uniforme completo, contendo uma camiseta, uma calça, uma jaqueta e tênis. Com dinheiro doado por empresas privadas, o projeto adquiriu instrumentos para a formação de uma fanfarra, que contará com um maestro para comandar as atividades voluntariamente. Também houve doações de computadores que serão instalados na sede para o uso dos jovens.
Da esquerda para a direita: Edriana, coordenadora voluntária, o criador e diretor do Projeto Wanderley Lúcio de Oliveira e Adriane Pereira do Santos, mãe de um participante do projeto.(Foto: Antonio Vinícius Iannuzzi)

Segundo a assistente social Arinda Lagares Pinto, 55, qualquer iniciativa que possa transformar a realidade social positivamente é muito válida. “Para as famílias, ter um espaço que permita ao seu filho o desenvolvimento humano e social é algo que traz muita tranquilidade e segurança, já que, infelizmente, o índice de criminalidade é muito alto nessas comunidades”, explica. De acordo com ela, não podemos perder de vista o papel do Estado: a garantia de segurança pública, oportunidades de trabalho e educação. Esses direitos diminuem as chances dos jovens ficarem vulneráveis ao tráfico e ao crime.
O “Projeto Social Alferes” funciona em sede própria na Rua Porto Alegre, número 22, onde Wanderley continua com seu projeto e seu sonho de mudar a vida dessas crianças. O horário de funcionamento é de 7h às 17h e aceitam doações de pessoas físicas ou jurídicas para que possam continuar levando mais tranquilidade, cultura e conhecimento para o cotidiano das crianças do bairro Prainha. Para entrar em contato, basta acessar a página no Facebook (Link) ou ligar para os números: (31) 3557-2614 / (31) 8880-2718 / (31) 8225-2779.
Arte Na Vila
Mãe, professora, pedagoga, ouropretana e moradora da Vila Aparecida, Joelma Aparecida Laguardia promove atividades e oficinas com as crianças de seu bairro. O projeto Arte Na Vila acontece durante as férias de julho e é realizado através de doações e do trabalho voluntário de professores, estudantes e moradores do bairro.
Joelma Aparecida Laguardia, Fundadora do projeto Arte Na Vila.(Foto: Líria Barros)

A criação do projeto, em 2009, surgiu da necessidade de promover atividades para que as crianças não ficassem desocupadas durante as férias. “A delinquência, a criminalidade e a gravidez precoce são problemas sociais e a melhor maneira de combatê-los é a prevenção. O nosso trabalho é principalmente um trabalho preventivo. O objetivo é despertar o interesse das crianças em áreas diferenciadas do conhecimento, como música, idiomas, desenho, artesanato, alimentação", afirma Joelma.
O Arte Na Vila atende crianças de 7 a 12 anos. Quando crescem e querem continuar participando, elas passam a ajudar os monitores. Raíssa, 18, esteve presente desde a primeira edição do projeto e hoje é monitora. "Cada ano é uma surpresa diferente. Uma vez o IFMG liberou a quadra e foi muito legal. A gente fez gincana, praticamos esporte."
As oficinas são coordenadas por adultos e envolvem temas como reciclagem, meio ambiente, artesanato, alimentação, cooperação. Elas fazem pulseiras, bambolês, desenhos, trabalhos em argila, aprendem a plantar e a conviver em comunidade. As atividades incluem também brincadeiras como a dança da cadeira, corrida com batata ou ovo na colher, peteca, corda e prática de esportes.
Em 2016, o projeto Universidade Desce o Morro, que é uma parceria entre a Associação das Repúblicas Reunidas de Ouro Preto (Arrop) e a Associação das Repúblicas Federais de Ouro Preto (Refop), responsáveis pela realização de boas ações na cidade, participou das atividades. Os estudantes das federais uniram as forças e trabalharam nas oficinas com as crianças. "Nós fizemos oficinas de pipa, desenho, criação de mandalas... Foi divertido", afirmou Nara Hangai Costa, vice-presidente da Refop.
Cada ano o projeto conta com 30 a 40 inscrições e as atividades acontecem à tarde durante uma semana. Como ele é realizado graças a doações, é um desafio encontrar patrocinadores. "Nós precisamos de materiais para a realização das atividades, de pessoas voluntárias e de alimento para o lanche da tarde. Muitas vezes os próprios monitores trazem coisas de casa ou compram os materiais para que o projeto aconteça", relata Joelma.
O Arte Na Vila não é o único projeto que Joelma participa. Ela trabalha junto com a comunidade na realização da Canjica Comunitária na festa junina. A próxima edição do Arte Na Vila acontece no mês de julho deste ano. Para participar, basta entrar em contato com a Joelma pelo telefone: (31) 98898-9113. Toda contribuição é bem-vinda.
Estudantes da Ufop com as crianças(Foto: acervo de Joelma Laguardia)
