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Falta de recursos nas Unidades de Saúde preocupa população Marianense

Felipe Leoni, Joice Valverde e Rômulo Giacomin

População de Mariana sofre com o descaso nas Unidades Básica de Saúde e obtém respostas desanimadoras dos órgãos público


Com mais de 58 mil habitantes, distribuídos na região urbana e em outros nove distritos, Mariana possui 19 Unidades Básicas de Saúde que oferecem atendimento de médicos especializados. Entretanto, algumas UBS sofrem com ausência de profissionais e de recursos para suprir demandas locais. A prefeitura gastou 75 milhões na área da saúde no ano de 2016. Para 2017, prevê um orçamento de 60 milhões.


UBS de Cabanas

(Foto: Felipe Leoni)

Uma unidade básica de saúde (UBS) oferece uma equipe voltada à atenção primária. Para casos mais graves ou emergenciais, deve-se recorrer à UPA (Unidade de Pronto Atendimento). Em um bairro sem nenhuma UPA, o sistema de atenção básica fica prejudicado por precisar atender emergências.


O bairro Cabanas tem um grande contingente populacional. São mais de 10 mil habitantes e apenas uma unidade de atendimento. Problemas como a falta de infra estrutura, atraso na entrega de exames e falta de remédios são constantes. Sem unidade de pronto atendimento, a UBS, com a estrutura já precária, precisa dispor de seus dois plantonistas, um pediatra e três ginecologistas para serviços que deveriam ser prestados em uma UPA.


“Tem dia que o atendimento é congestionado aqui. Até mesmo a questão das cadeiras, que faltam bastante. O secretário Danilo (Secretário da Saúde), já se prontificou para olhar isso para nós.” Coordenador Geral Maurício Antônio Borges.


A unidade se divide em três áreas com um médico, um enfermeiro e os agentes comunitários em cada. Conta também com os profissionais de suporte: dentista, psicólogo, fonoaudiólogo, nutricionista e fisioterapeuta. Considerando o crescimento da população do bairro, um projeto para uma equipe adicional está sendo pensado. Dados do ministério da saúde impõem que cada PSF tem que atender até 3.800 habitantes. A policlínica Cabanas atende mais de 4.000 pessoas.“Mas ainda assim, essa unidade consegue suportar a demanda, ainda estamos dentro do padrão, podemos dizer assim.” Nayara Alvares de Oliveira, enfermeira na UBS de Cabanas.

(Foto: Felipe Leoni)

A unidade tem ainda um projeto com participação do CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) e CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) com a finalidade de suprir demandas nas áreas descentralizadas do bairro. Os casos são analisados e apurados pelas unidades. Aqueles que o critério da assistência social julgar necessária uma intervenção na área da saúde, seja uma consulta com psicólogo, psiquiatra, exames ginecológicos ou pediatria, é repassado para a assistência médica, e vice-versa.


Além da alta taxa populacional, o bairro Cabanas apresenta um índice de natalidade muito elevado.São acompanhadas aproximadamente 150 gestantes, o que é muito para um bairro. Mulheres de 16 até 40 anos. A enfermeira Nayara acompanha 94 pacientes menores de 2 anos, listando casos de má alimentação, hipertensão e diabetes entre as crianças.

O ponto de atendimento recebe inúmeras queixas dos moradores. Os relatos variam desde o tempo de espera para os atendimentos, denúncias de atraso de exames, até a falta de medicamentos. Uma moradora, que não quis ser identificada, relata a falta de remédios para hipertensão, doença com altos casos confirmados no bairro. Denuncia também o descaso com a estrutura do posto de saúde. “Aqui não tem remédio nenhum, não tem nem pote pra por urina e fezes, há muito tempo. Não tem um remédio para pressão, é uma vergonha. Para marcar um exame, é uns dois, três anos”, ela conta.


“Eu marquei dentista ano passado, pois perdi um dente, só hoje que saiu vaga. Nesse tempo já quebrei dois...” Moradora do bairro que não quis ser identificada.


“Um dia vim marcar dentista, tinha gente dormindo em colchão na fila e dentro do carro. Eu pensei: não vou conseguir marcar nada aqui não”. Relata outra moradora.


Em uma coletiva no bairro Cabanas, o Secretário da Saúde, Danilo Brito, junto do prefeito Duarte Junior, respondeu que “A situação orçamental de Mariana é extremamente delicada. Nós estamos tendo que economizar o máximo possível, então a gente tem que ter esse controle para esse ano, porque vai ser muito complicado.” O prefeito reforça, otimista: “aquela fala de que o prefeito faz tudo, o prefeito salva, é mentira. O prefeito escolhe as pessoas mais capacitadas para fazer a administração. Então, a confiança é grande e vamos até o final do ano com muito trabalho, para trazer uma vida melhor para o povo marianense.”


O prefeito afirma ter conhecimento sobre os atrasos de resultados de exames e justifica que “o exame é encaminhado para o laboratório, esse laboratório é o mesmo das unidades particulares, a diferença é que, para o hospital de iniciativa privada, o retorno demora de três a cinco dias no máximo, já para nós, que também pagamos a mesma coisa, demora 15 a 20 dias, então não faz sentido.” E complementa, juntamente com o secretário, que “a Secretaria de Saúde já está se prontificando para a alteração do contrato com o laboratório, e quando essa for alterada, não poderá ter mais atraso.” Em casos de demora, o prefeito indica a comunicação com a ouvidoria da saúde.

Na coletiva ainda foi alegado que medidas estão sendo tomadas para a melhoria da qualidade das unidades de saúde. Prefeito e secretário garantem que o horário de atendimento será estendido e a unidade passará a funcionar das 7h às 21h. Além disso, a UBS deve receber cadeiras de espera e de dentista e duas PSF serão construídas no bairro para redistribuir a demanda.


Contudo, em conhecimento da dependência econômica da cidade em relação à empresa Samarco e das circunstâncias que levaram a paralisação de suas atividades, o prefeito afirma que a cidade conta com a volta da empresa para a consequente estabilidade financeira até o final do atual mandato.


UBS de enfeite

(Foto: Joice Valverde)


O posto de saúde de Barro Branco, construído em quatro cômodos, enfrenta problemas com falta de recursos e repasse de medicamentos. A sala de espera conta com apenas 3 cadeiras em bom estado, a balança infantil foi furtada durante a reforma. A falta de remédios, fornecidos pela farmácia de Cachoeira do Brumado, também é frequente.


O distrito, localizado a 21km da cidade de Mariana, possui 486 habitantes. Dentre os moradores da comunidade, 189 possuem alguma doença que necessita de acompanhamento especializado.


Por se tratar de um distrito pequeno, a presença de um enfermeiro para atendimento diário foi suspensa sob a justificativa de falta de demanda.

Uma agente de saúde, residente no distrito, é quem supervisiona a UBS. O atendimento especializado segue uma agenda:




Para o agendamento de consultas são disponibilizadas apenas 6 fichas, como conta a moradora Maria Zacarias Apolinário, a qual faz controle de diabetes e hipertensão no local. E complementa: “Se for consultar, tem que ir uns 3 ou 4 dias antes pra agendar.”


A comunidade reclama da falta de um profissional para prestar atendimento diário, presente na UBS não só nos dias agendados. Representados pela Líder Comunitária, Maria José Elminio, os moradores procuraram por diversas vezes a Secretária da Saúde, reclamando que o atendimento médico no bairro não é diário. A agente não é uma profissional capacitada na área da saúde e por isso não está autorizada a prestar primeiros socorros ou serviços básicos. “A agente de saúde não pode mais entregar remédio, só a enfermeira nos dias de atendimento” Diz Maria de Fátima, moradora local.


Procurada por nossa equipe, a Secretaria Municipal de Saúde rebateu as denúncias de falta de equipamento e medicamentos, dizendo fazer vistoria mensal. Até então não houve denúncias pela ouvidoria da Prefeitura.


Acontece na unidade uma ausência de um profissional a serviço da comunidade. Os coordenadores de atenção básica, Natercia Nobre e Sérgio Rossi, informaram que a presença de um enfermeiro na unidade pode dar a falsa impressão de que se trata de um profissional qualificado para qualquer situação. Quando o ideal a fazer é encaminhar o paciente para as unidades com melhor estrutura na cidade de Mariana. Aqueles que fazem tratamento em outras unidades ou que possuem algum tipo de dificuldade de locomoção, é oferecido transporte previamente agendado.


Um projeto visionário e embargado

Atual situação da construção no bairro São Pedro. (Foto: Felipe Leoni)

Em janeiro de 2015, teve início a construção da UPA no bairro São Pedro. A obra ficou parada durante todo o ano de 2016, apesar do grande investimento feito na construção, e não há nenhum sinal de continuidade. Os órgãos públicos manifestam que não há como terminar uma edificação daquele porte.“O município, hoje, não tem condição nenhuma de terminar a UPA com esse valor faltante”, afirmou o Secretário da Saúde, Danilo Brito.


Como solução o secretário propõe aditivo qualitativo, ou seja, diminuir a qualidade e o valor da obra. Ele alega que a estrutura já construída é de grande porte e supre mais que as necessidades do bairro. O prazo para a entrega da obra continua indeterminado, porém o Ministério da Saúde já alertou duas vezes o município pela obra parada. Está marcada para o dia 23 de fevereiro uma reunião em Brasilia para deliberação sobre a construção


A empreiteira responsável pela obra é a Diminas Construções e Comércio, empresa com sede em Ouro Preto. A empresa é alvo de inúmeros processos trabalhistas, segundo o site do Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região.

A obra teria o custo de R$16.700.000. Os R$10.200.000 que faltam para o término serão reavaliados para o barateamento da obra. Mesmo com tantas dificuldades financeiras e sociais, o município, junto da Secretaria de Saúde afirma estar empenhada para resolver a questão da Unidade de Pronto Atendimento.






2016 - 2017

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